Redução de estômago pode voltar a engordar e causar alcoolismo
*Obesos submetidos à cirurgia estão voltando a engordar .Pacientes que passaram pela cirurgia de redução de estômago há mais de cinco anos vêm obtendo novo ganho de peso, além de apresentarem outros distúrbios, leia mais.
Redução de estômago pode ocasionar, anos mais tarde, problemas dentários e de alcoolismo e voltam a engordar.
Por Rafael Veríssimo
Alguns pacientes submetidos à cirurgia de redução do estômago apresentam, após cinco anos ou mais, um considerável novo ganho de peso. Além disso, outros distúrbios também estão sendo observados no mesmo período após a operação, entre eles o alcoolismo, anorexia, bulimia, bruxismo, aumento excessivo de cáries e dentes quebradiços.
As informações vêm sendo obtidas e interpretadas por um grupo de estudo multidisciplinar do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP. O objetivo do estudo, ainda em andamento, é demonstrar que só a cirurgia, que é feita no hospital há nove anos, não basta para o sucesso do tratamento utilizado para a diminuição drástica do peso.
Segundo a psicóloga Marlene Monteiro da Silva, de um grupo de pacientes operados pela técnica Fobi-Capella entre cinco e nove anos atrás, 13% voltou a um estado de obesidade mórbida, com um índice de massa corpórea (IMC) superior a 40. O IMC é obtido dividindo-se o peso da pessoa pela altura ao quadrado. No total, 64,15% voltou a ser obeso, com um IMC maior que 30.
Após a cirurgia, espera-se que o paciente emagreça a quantidade almejada e, depois, engorde dez quilos novamente. Porém, entre os 53 pacientes pesquisados, 58,5% ganhou mais que dez quilos, 39,6% mais de vinte quilos e 13,2% engordou mais de trinta quilos. Somente 7,84% dos pacientes mantiveram o peso ideal ou emagreceram demasiadamente (nos casos de bulimia e anorexia).
"Trata-se de resultados brutos e ainda não foram feitos estudos estatísticos. Os dados não foram correlacionados com as questões orgânicas e a integridade da cirurgia. Mas não deixa de ser um alerta a pacientes e médicos: a cirurgia não deve ser entendida como uma fórmula mágica", explica Marlene.
Compulsão
De acordo com o médico e coordenador do grupo, Bruno Zilberstein, o estudo pretende mostrar que a operação não é o fim do tratamento. "Esses pacientes podem substituir uma compulsão por outra. O segredo para o sucesso é o acompanhamento", explica.
Para Marlene, o caso do alcoolismo, observado em 18% dos mesmos 53 pacientes estudados, é um dos exemplos da troca de compulsão. As pessoas começam a aproveitar o benefício social do emagrecimento - diferentemente da condição anterior, na qual elas não saíam de casa - passando, assim, a beber excessivamente.
"A obesidade, porém, é um sintoma de problemas anteriores a isso. Existe, no obeso, a necessidade de se esconder de alguma coisa que vai ser descoberta somente após a cirurgia", conta a psicóloga, acrescentando que perto de 80% das pessoas apresentam um quadro de depressão tanto antes quanto depois da cirurgia.
"A pessoa passa a comer menos porque o estômago não admite maior volume de alimento, e não porque tenha deixado voluntariamente o hábito de comer em grandes quantidades", observa o médico Joel Faintuch. Os retrocessos na perda de peso, segundo ele, vêm também pelo fato de o estômago operado ainda ter a capacidade de se dilatar, "podendo ampliar seu volume em até quatro vezes".
Problemas bucais
Os dados a respeito de distúrbios odontológicos são inéditos e mostram que metade dos pacientes retornou ao médico com alguma queixa. Cerca de 80% estava com os dentes quebradiços e 60% apresentava um aumento no número de cáries. Esses problemas foram observados tanto em pacientes vindos do Sistema Único de Saúde (SUS) quanto de planos de saúde particulares, o que mostra que a situação está pouco ligada à classe socioeconômica dos pacientes
Segundo a dentista Vera Lúcia Kogler, os motivos exatos desses problemas ainda estão sendo estudados. "Porém, isto pode estar relacionado com um problema na absorção de nutrientes já observado; com refluxos gastro-esofágicos; com um ressecamento da boca, fruto da medicação administrada ou ainda com vômitos".
A cirurgia de redução de estômago é um dos principais temas do 32º Gastrão, evento que conta com a participação de cerca de mil médicos especialistas em cirurgia do aparelho digestivo. No evento, que começou nesta segunda (dia 4) e vai até sexta (8), no Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo, haverá conferências, mesas-redondas e transmissão de cirurgias ao vivo.
Fonte: agênciaUsp
Auto-estima de gordos ...
Movimento incentiva auto-estima de gordos.
Vivemos em um mundo muito grande, afinal de contas. O slogan é um dos que move, há mais de uma década, ativistas que pregam que os gordinhos não se escondam, não deixem de se divertir e de se cuidar e --não sem polêmica com o meio médico-- que é possível ser gordo e saudável."É uma resposta à discriminação em relação às pessoas gordas. O que descobrimos é que empresas, médicos, companhias de seguros e mesmo escolas estavam começando a discriminar pessoas por causa do seu tamanho. Por exemplo, tinham de pagar muito por um seguro só porque eram gordas, não importando se eram saudáveis ou não", afirma Allen Steadham, 35, fundador e diretor da ISAA ("International Size Acceptance Association"), movimento que quer aumentar a auto-estima de pessoas gordas, com sede no Texas e braços em vários países, inclusive o Brasil.
Steadham, que não é gordo --tem 1,77 m e 84 kg--, mas já fez regime por necessidade médica, pesquisava sobre o assunto para escrever uma história sobre pessoas gordas, ficou comovido com relatos de discriminação e sentiu vontade de ajudar -hoje tem 2.000 associados formais só nos EUA. Ri quando a reportagem lembra que, talvez, um dia o movimento seja mais popular aqui, onde, segundo pesquisa do IBGE divulgada no fim de 2004, 40,6% dos brasileiros com 20 anos ou mais já sofrem de sobrepeso, fase anterior à obesidade.
"Queremos que as pessoas acreditem que podem fazer coisas apesar do seu tamanho. Enfatizamos o fitness e escolhas certas de comida saudável. Um conceito errado sobre o movimento é que incentivamos as pessoas a ficarem gordas. Pessoas que se sentem bem cooperam mais para ficarem saudáveis", diz.
No Brasil, o movimento tomou forma há seis anos no "Magnus Corpus", filial tocada pela webdesigner Denise Neumann, 39, ainda sem ter feito muito barulho.
Um dos exemplos para o grupo, diz Neumann, é o apresentador Jô Soares, que sempre fala da sua saúde. A diretora teme o avanço, ano a ano, da indústria das dietas milagrosas. "Nos países em que há mais essa neurose, há mais problemas." É o efeito iô-iô, ou sanfona, pior para a saúde do que ficar gordo, dizem os médicos.
Contra dietas radicais, pela reeducação alimentar --no que tem apoio da comunidade médica--, o movimento começa a criar polêmica quando se opõe a cirurgias, aplicação de remédios, fala em gordura com saúde, que algumas pessoas sempre serão gordas, ou ao pedir parcimônia na aplicação do consagrado IMC. Acredita que os padrões do índice estão cada vez mais radicais.
O IMC, índice de massa corporal, é o peso dividido pela altura ao quadrado, utilizado para definir se uma pessoa está obesa. Para resultados a partir de 30, a resposta é sim. Mas o movimento lembra que a massa de músculos não é levada em conta. "Assim, até Arnold Schwarzenegger [ator e governador da Califórnia] seria considerado gordo", diz Steadham."Eu acho que esse movimento tem um lado positivo, quando combate a angústia obstinada por um ideal de beleza incompatível com a saúde", afirma o endocrinologista Walmir Coutinho, vice-presidente da Federação Latino-Americana de Sociedades de Obesidade. "O negativo é se há a aceitação da gordura, como se não fosse prejudicial. Mas ela é a segunda causa de morte evitável no mundo, só perde para o cigarro."
Fonte: Folha de S.Paulo
Obesidade pode ter como a maior causa o estilo de vida
Brasília, 19 (Agência Brasil - ABr) - Apenas 1% dos casos de obesidade deveriam ser resolvidos por um endocrinologista. A afirmação é de Arthur Kaufman, coordenador do Projeto de Atendimento ao Obeso (Prato), do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. Na maioria dos casos são problemas de ordem emocional, aliados a uma vida sedentária e dieta alimentar incorreta, que faz com que algumas pessoas se tornem obesas: estilo de vida inadequado é um prato cheio para a obesidade.
Entende-se por estilo de vida tudo que se refere aos hábitos de uma pessoa, no caso do obeso, não só a rotina alimentar deve ser levada em consideração quando se tenta resolver a doença, mas também como o paciente resolve sua vida emocional, financeira e física. O Prato, que teve início em 96, aposta que a obesidade se resolve ao se traçar um caminho saudável entre o emocional e o físico. A nutrição é o meio do percurso. A equipe conta com dez profissionais de áreas diversas como nutricionistas, professora de dança do ventre, psiquiatras e coordenadores de exercícios físicos, que encontram um objetivo comum ao tratar a cada três meses de cerca de 30 pacientes que estão bem acima do peso ideal.
Arthur Kaufman, que acumula o cargo de coordenador de psicologia médica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), define o perfil de um obeso: "Em sua maioria os gordos se dispõe a cuidar dos outros tomando todas as responsabilidades para si mesmo". São pessoas que engolem todos os problemas, seus e dos outros, e fazem isso muitas vezes acompanhado de uma feijoada e pedaços de bolo. Os obesos são ansiosos e não sabem se relacionar bem com a renúncia, não conseguem abrir mão do prazer de comer em troca de uma vida mais saudável. O maior objetivo do Prato, além de descobrir os mecanismos da obesidade, é ensinar essas pessoas a não digerirem os problemas e aprenderem a não depositar na comida a ilusão de que encontraram a solução para uma vida complicada.
Há também o problema de erotização da comida. Gordos muitas vezes tem problemas em se mostrarem como seres sexuados e depositam na comida a realização dos prazeres do corpo. Kaufman se lembra de um paciente que em uma terapia de psicodrama erotizou a tal ponto uma almofada que ele imaginava ser um bolo floresta negra, que começou a se acariciar com o que ele acreditava ser a comida. "Para se proteger de um relacionamento que não dê certo a maioria dos obesos se esconde em uma muralha de carne que eles mesmos construíram".
Se bem que é verdade que algumas pessoas conseguem tirar um bom proveito da doença, diz o coordenador do Prato. Alguns artistas usam o corpo mais cheinho como marketing pessoal. É o caso do Jô Soares e da Fat Family, por exemplo. Outro caso mais extremo se dá nos Estados Unidos, segundo Kaufman. "Lá o estado obriga que empresas e indústrias tenham uma certa porcentagem de minoria no seu quadro de funcionários, os gordos se enquadram nesse perfil e por isso têm emprego garantido".
O Prato tinha inicialmente a intenção de tratar de todas as pessoas que se auto consideram gordas, mas com o tempo teve que se limitar as características do paciente potencial, "se não, todas as mulheres apareceriam no hospital como paciente" comenta com bom humor Kafman.
Segundo ele, há um padrão estético imposto socialmente que faz com que a maioria das pessoas, em especial as mulheres, não se sinta contente com o próprio corpo. "Estamos vivendo um momento de culto ao corpo muito complicado, jamais se viu tantas academias de ginásticas e tantas pessoas interessadas em frequentá-las".
O Prato tem sede no Hospital das Clínicas e atende pessoas que tenham o índice se massa corpórea acima de trinta. Calcula-se o índice dividindo-se o peso pelo quadrado da altura. Por exemplo, um homem que pese 98 kg e tenha 1,73m de altura calcula seu índice dividindo seu peso pelo resultado da multiplicação 1,73 x 1,73, ou seja, tem índice igual a 32,77. (AUN/USP - Daniele Riccieri).
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