sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Drauzio Varella explica como funciona a cirurgia bariátrica

Drauzio Varella explica como funciona a cirurgia bariátrica

Técnicas mais utilizadas provocam a perda de peso de duas maneiras: diminuem drasticamente o tamanho do estômago e evitam que os alimentos ingeridos sejam totalmente absorvidos pelo organismo.
“Estou ansiosa. A coisa que eu mais quero neste mundo é operar”, comenta a secretária Érika Cardote Kuhl.

Três mil pessoas, a cada ano, encaram o desafio radical de emagrecer reduzindo o tamanho do estômago. A cirurgia bariátrica é um procedimento muito delicado.

“A gente não pode esquecer que um paciente que pesa 200 quilos é um paciente de risco cirúrgico”, ressalta Alessandra Rascovski, do Ambulatório Clínico de Obesidade Grave.

As primeiras cirurgias bariátricas no mundo foram feitas em 1954. No Brasil, só a partir da década de 1980. No dia 10 de agosto do ano passado, depois de quatro anos na fila, chegou a vez de Érika. Aos 40 anos, com 1,65 m de altura e quase 160 quilos, ela espera na maca a hora de entrar no centro cirúrgico.

As principais complicações cirúrgicas são fístolas – feridas operatórias que demoram para cicatrizar –, anemia crônica, deficiência de cálcio – que provoca osteoporose e pedras nos rins –, engasgamento, perda de cabelo, cálculo na vesícula e um fenômeno conhecido como dumping.

“É uma complicação bastante importante e, de certa maneira, até bem-vinda, já que ela acontece quando o paciente come alimentos muito doces ou muito gordurosos”, descreve Alessandra.

“Os médicos falaram que a cirurgia foi um sucesso, que foi muito boa, que não teve problema nenhum”, disse Érika após o procedimento.

Existem várias técnicas de cirurgia bariátrica. As mais utilizadas provocam a perda de peso de duas maneiras: diminuem drasticamente o tamanho do estômago e evitam que os alimentos ingeridos sejam totalmente absorvidos pelo organismo.

“Hoje eu só tomei água e chá, com 20 ml da seringa, porque meu estômago agora é pequeno. Vou tomando devagar, de 15 em 15 minutos”.

Na cirurgia que a Érika fez, o estômago foi cortado bem lá em cima, de forma que seu volume ficou reduzido a 50 ml. O trânsito dos alimentos foi refeito costurando uma alça do intestino nesse pequeno estômago. O resto do estômago antigo ficou fora de circuito.

“Fiquei morrendo de vontade de comer, mas não faço isso porque sei que vai me prejudicar. A partir do quinto dia eu comecei a tomar água de coco. Parece que eu nasci de novo. Eu não agüentava mais aquele chá na minha frente. Tomava bem pouquinho, 20 ml. Eles deram uma seringa, daí eu enchia e tomava”, conta Érika.

Érika tem todas essas restrições para se alimentar porque, antes, o estômago dela, que se dilatava à vontade, agora, depois da cirurgia, foi reduzido ao volume de 50 mililitros, um copinho de café.

Durante todo o primeiro mês depois da cirurgia, Érika só pode tomar chá, sucos coados e sopas feitas apenas com a água onde foram cozidos os alimentos. Uma dieta bastante restrita, mas necessária: o corpo precisa se adaptar ao novo tamanho do estômago.

“A gente vai transformando a dieta de líquida para pastosa, para branda, até a ingestão dos alimentos sólidos”, explica Alessandra.

“Hoje eu vou comer sopinha de nenê. Na realidade, eu tenho vontade de comer coisa mais forte, mas quando o tempero está muito pesado o estômago dói”, conta Érika.

Quando o estômago está vazio, libera uma substância chamada grelina, que informa ao cérebro que está na hora de comer. Com a diminuição do estômago, a produção de grelina fica menor e a fome também. Só que esse é um processo demorado.

“Há quinze dias atrás, quando me pesei, já tinha perdido 15 quilos. Acredito que agora, cinco dias depois, devo ter perdido mais. O resultado é muito rápido. Aquilo que o gordo sonha, passe de mágica, está acontecendo”, comemora Érika.

“Você emagreceu 23 quilos. Está dentro da média. O primeiro mês é realmente avassalador, o que dá até uma certa euforia. Agora vai começar a desacelerar a perda de peso. Só que você agora é muito mais responsável pelos resultados”, comenta Alessandra.

“Em termos psicológicos, começa a entrar em uma fase muito eufórica, de poder sair, viver tudo o que não viveu. Muitos pacientes, após cinco anos, chegam até a voltar a engordar porque acham que a cirurgia é como mágica”, comenta a psicóloga Marlene Monteiro da Silva.

Quando se passa a ingerir alimentos sólidos, é preciso muito cuidado. Tudo deve ser bem picado e mastigado. Qualquer exagero pode provocar vômito, engasgo, mal-estar.

Érika revela o que acontece se ela forçar e comer mais do que deveria: “Eu fico entupida e tenho que vomitar. Às vezes acontece de seis, sete dias na semana, quatro e meio”.

Alessandra Rascovski explica que pessoas habituadas a comer cinco mil calorias vão se adaptando a comer pouquinho. “É um aprendizado mesmo”, esclarece Alessandra.

“As complicações mais freqüentes da cirurgia, que aparecem nos primeiros meses, geralmente são cansaço, fraqueza, a síndrome de dumping”, relata Alessandra.

O dumping aparece porque a cirurgia remove o estômago e os alimentos caem direto no intestino. Quando são muito doces ou muito gordurosos, provocam uma irritação intensa. A pessoa se sente muito mal: palpitações, suor frio, palidez, escurecimento da vista, sensação de desmaio e diarréia.

“É horrível. Começo a sentir como se o estômago estivesse entupido, dá um suor frio, uma coisa muito ruim. Fui ao banheiro e pus tudo para fora. É o preço que você paga pelo que fez, mas é tão pequeno perto dos benefícios que você tem que vale a pena”, avalia Érika.

Ao todo, 60% das pessoas que fazem a redução do estômago desenvolvem intolerância à carne. “Você pode usar soja, derivados de leite e assim repor a quantidade de proteína necessária para formar musculatura, para manter o cabelo, para manter as unhas e até a disposição”, ensina Alessandra.

Este foi o peso da Érika em março: 115,3 quilos. Em abril, ela estava ainda mais magra: 109,9. Agora, ela pesa cem quilos e está muito diferente da mulher cheia de problemas de dez meses atrás, quando foi feita a primeira gravação. Nestes dez meses, foram 57 quilos.

“Compensa o sacrifício. E compensa principalmente nos casos em que o paciente tem risco de vida pela obesidade”, avalia a médica.

“Estou realmente aproveitando a vida, os meus filhos, a minha família, os meus amigos. Está muito bom mesmo. E o namorado também, eu estou namorando”, garante Érika.

Érika trocou a obesidade excessiva, uma doença grave, com risco de morte, por outra com a qual consegue conviver. Mas nesse processo sofreu muito. A cirurgia é uma solução extrema, um último recurso. Na semana que vem, no episódio final da série, você vai ver o que fazer para controlar o peso.

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